Não há nada para mim, homem tecnológico, que tenha mudado tanto e que me assuste tanto como as tecnologias das casas de banho (WC).
Começa logo pela entrada. Sorrateiramente se mete um pé dentro, para descobrir se existe um interruptor ou se a luz acende automaticamente. Neste ultimo caso somos surpreendidos a meio do que estamos a fazer com um apagão que nos obriga a gesticular o mais rapido que sabemos para sair daquela escuridão. Com o susto por vezes abanamos tanto as mãos que nos chegamos mesmo a sujar. Dependente da forma como está programada e do que estamos a fazer podemos ser obrigados a gesticular diversas vezes para não ficar as escuras. Havia de ser engraçado sermos filmados a fazer esses gestos ridiculos e solitarios durante os actos que praticamos.
Por a agua a correr depois de feita a coisa tambem não é facil mas ai a maior parte começa automaticamente a deitar pelo que só temos que nos afastar o mais depressa possível.
Depois vem o desafiante lavatório. Como fazer a agua deitar da torneira? Será passando a mão por baixo da torneira? Ou um botão no chão? Será da forma tradicional? Um verdadeiro desafio. Misturar agua quente com agua fria isso nem pensar , so esta ao alcance dos doutorados.
Ainda alguns sabem complicar com o aparelho do sabonete que pode ser automático e fazer um barulho estranho ou ser manual e ter que se carregar num botão com as duas mãos.
Quando julgamos que ja estamos a salvo vêm os secadores. Nos bons velhos tempos limpavamos as mãos a um papel, mas desde as epidemias que não há cão nem gato que não tenha um secador de parede, horizontal ou vertical, de barulho insuportável.
No final desta canseira, saimos transpirando para longe daquele antro de alta tecnologia que nos assusta mais que iniciar um iphone ou ver a programação na nova televisão.
Isto para encurtar a hiostória e não falar dos WC com filmes de golfinhos e musica de Mozart.
E as noticias que leio a esse respeito são assustadoras, acho que a coisa não vai ficar por aqui, com tampos de sanita a medir a tensão e a fazer check up logo pela manhã.
Lembram-se de quando éramos miudos? Havia nos jornais duas imagens aparentemente iguais mas que tinham sete diferenças e nós tinhamos de assinalar quais eram. Ainda hoje acho que alguns jornais trazem esse passatempo.
Lembrei-me estranhamente disto a proposito de ir eu ou a empregada buscar o meu filho ao Inglês. A acção é aparentemente igual, como nas imagens do jornal, o meu filho ser conduzido do Inglês para casa. Mas um pouco mais de concentração e vemos nessa acção pelo menos sete diferenças que fazem toda a diferença.
A 1ª é que que me obriga a sair mais cedo preocupado para o ir buscar. A 2ª saber que dois dias por semana tenho essa incumbência. A 3º falar do Inglês com ele, saber como correu, se tem trabalhos para casa, etc. A 4º conhecer alguns dos colegas e pais que o convidam depois para os anos. A 5º chegar nesse dia mais cedo a casa e por isso acabar também por falar mais com o filho mais velho. A 6º diferença é acabar nesse dia por jantar a horas e com eles. A 7º e última, mas não a menos importante, o amor! Não é que a empregada nao goste dele mas ele sente nesse gesto mais uma demonstração, de preocupação, de que faz parte do meu dia. E para mim o dia tem mais significado. O amor faz toda a diferença desse momento. É como uma viola parada ou tocada por alguém que sabe tocar. Um gesto que faz toda a diferença.
Um anti-monarquico contou-me uma vez esta historia e eu, concordando ou não com ela, achei tão engraçada que não resisto a contá-la aqui.
Era uma vez.. há muitos muitos anos Dom Afonso Henriques. Logo no inicio da nacionalidade o nosso primeiro rei não tinha corte e então resolveu nomear como sua nobreza todos os seus amigos. É a chamada nobreza de sangue.
Os cavaleiros que tinham andado na guerra pela nacionalidade ficaram furiosos e foram ter com o rei para se queixarem
- Então nós que andámos na guerra a chafurdar na porcaria, a conquistar Portugal para ti não temos direito a nada e os teus amigos é que são nobres?
Dom Afonso Henriques que não queria confusões nem revioltosos nomeou esses cavaleiros que andaram na guerra a chafurdar na porcaria nobres também. É a chamada nobreza da porcaria.
Estas duas nobrezas foram fazendo descendentes mas nunca se misturaram, mantendo Portugal dois tipos de nobreza: a de sangue e a da porcaria. Até D. Sebastião!!
O D. Sebastião que toda a gente sabe era um snob envolveu-se na guerra contra os mouros e levou para Alcácer Quibir apenas a nobreza de sangue. Morreram lá todos!
Por isso hoje Portugal só tem descendentes da outra nobreza :) a da porcaria.
Vivemos numa sociedade competitiva. Desde pequenos assimilamos a ideia de que, se não formos bonitos, inteligentes, ricos, simpáticos, nunca teremos sucesso na vida. O professor sente-se orgulhoso ao apresentar o melhor aluno da turma, o treinador gloria-se do mais forte dos seus atletas; mas todos sabemos que uma mãe faz exactamente o contrário: se tiver dois filhos, dará maior atenção, mais cuidados e maior amor ao que for mais fraco e mais doente.O discipulo de Cristo é aquele que , como o Mestre, se inclina e abraça primeiro o mais fraco.
"Tinha o rosto e palavras de homem" Fernando Armellini, Giuseppe Moreti.
Agora é facil acreditar que a Internet é a maior tecnologia de todos os tempos. O dificil era há 15 anos atrás conseguir prever essa situação. Agora continua a ser fácil prognosticar que os Tablets desatronarão os livros. O dificil era há 5 anos atrás. Mas eu que acreditei na Internet há 15 anos atrás começo a parecer-me com um velho do Restelo ao não acreditar nesta última possibilidade. Acredito que os tablets acabem de entrerrar as revistas e jornais em papel mas não acredito que matem os livros. Os nossos queridos livros. Começando pelo fim não há maior prazer que acaber um livro. Chegar à última página, fecha-lo e coloca-lo na estante dos livros outra vez. Esse prazer não existe nos tablets. Depois o cheiro a papel, o folhear antes de completar a leitura, o volume do livro na minha mão, uns mais finos outros mais grossos, ir a uma livraria ou biblioteca e ver os livros expostos, organizados, só ver, apreciar os varios materiais de que são feitas as capas e passar a mão por cima, como quem acaricia... Mais do que ter esta exposição permite desejar, desejar todos os livros do mundo, "o desejo faz todas as coisas florescerem, a posse fá-las murchar" como dizia Proust. Ler um livro através de um tablet é como fazer sexo sem amor, pode até pagar-se essa necessidade mas não se compara ao sexo com amor. Assim é ler um livro através do objecto livro. Enquanto houver quem deseje livros e amantes do livro/objecto como eu os livros não vão acabar. Este é o meu vaticinio.
No edificio Cirilo fui viver após a maternidade. De tal maneira o meu pai de tratava bem que ainda hoje o edificio é referenciado pela sua bela arquitectura. Inaugurado em 1958 foi em 1961 que o fui habitar. "O grande trabalho do arquitecto Vasco Vieira da Costa, em sociedade com Pereira da Costa foi o edifício Cirilo, construído na baixa de Luanda, na Rua hoje Major Kanhangulo, inaugurado em 1958, que é ainda hoje um grande trabalho, no quadro de um determinado período da arquitectura na África colonial", diz Fernando Pereira no seu Blog "Recordaçoes da Casa Amarela"
Casinha Branca
Maria Bethânia
Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que nem vejo em minha frente
Nada que me dê prazer
Sinto cada vez mais longe a felicidade
Vendo em minha mocidade
Tanto sonho perecer
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde prá plantar e prá colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela para ver o sol nascer
Às vezes saio a caminhar pela cidade
Procura de amizades
Vou seguindo a multidão
Mas eu me retraio olhando em cada rosto
Cada um tem seu mistério
Seu sofrer, sua ilusão
O que te peço, Senhor, é a graça de ser.
Não te peço mapas, peço-te caminhos.
O gosto dos caminhos recomeçados,
com suas surpresas, suas mudanças, sua beleza.
Não te peço coisas para segurar,
mas que as minhas mãos vazias se entusiasmem na construção da vida.
Não te peço que pares o tempo na minha imagem predilecta,
mas que ensines meus olhos a encarar cada tempo
Como uma nova oportunidade.
Afasta de mim as palavras
Que servem apenas para evocar cansaços, desânimos, distâncias.
Que eu não pense saber já tudo acerca de mim e dos outros.
Mesmo quando eu não posso ou quando não tenho,
Sei que posso ser, ser simplesmente.
É isso que te peço, Senhor:
A graça de ser de novo.
José Tolentino Mendonça (Pe, poeta, actor, autor, etc)
"Aqui estou eu: filosofia,
Medicina e Jurisprudência,
E para meu mal até Teologia
Estudei a fundo, com paciência.
E reconheço, pobre diabo,
Que sei o mesmo, ao fim e ao cabo!
Chamam-me Mestre, Doutor, sei lá quê,
E há dez anos que o mundo me vê
Levando, atrás de mim a eito
Fiéis discípulos a torto e a direito
E afinal vejo: nosso saber é nada"
Fausto, Goethe
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