Não há dúvida que estou velho.
Sempre fui um respeitável cinéfilo amador e por isso sempre adorei cinema. Desde miúdo. Se tenho alguma paixão são os livros e o .... cinema.
De tal forma que no velhinho cinema do Sindicato dos Electricistas em Luanda cheguei a fazer de projector e arrumador depois de toda a gente que sabia da coisa se ter ido embora. Foi nessa altura que vi o "Chove em Santiago" pelo menos 20 vezes e chorei com filmes épicos como "Onde passam as Cegonhas".
Mas a minha primeira diva foi a Natalie Wood. Apaixonei-me por ela num filme menor chamado "A Solteira e o Atrevido" mas também por Ingrid Bergman, Diane Keaton, Faye Dunaway, Liv Ullmann, Jodie Foster, Brigite Bardot, Ornella Mutti . Na ressaca de Humprey Bogart vieram artistas de peso que podiam ser nossos pais ou irmãos. Elas eram sempre nossas namoradas.
E nós iamos ao cinema para ver os nossos artistas. Marlon Brando, Al PAcino, Robert Duvall, Peter O´Toole, Omar Shariff, Paul Newman, Robert Redford, Antony Quinn, Jack Nicholson, Dustin Hofmann, mas também os meus grande heróis Robert Mitchum (com uma covinha no queixo) e Jonh Wayne. Companheiros de grandes cowboyadas.
Mais tarde com outras obrigaçoes claro que entrei na adoração a Woody Allen e Steven Spielberg mas mesmo ai os artistas faziam a diferença. Todos os filmes nos faziam as medidas e os que eram maus nós víamos na mesma mas sabíamos que eram maus.
Ia-se ao cinema e vinha-se de lá cheio. Com vontade de ser o heroi do filme e namorar a heroina.
Mas depois veio o Star Wars e esta historia sofreu a sua primeira derrota. Como era possivel a identificação com alguém com ar de miudo, vestido de panos e que falava com monstros ou namorar com alguém com um penteado esquisito. Sai desse filme com uma sensaçao esquisita que nunca mais acabou.
Hoje ver um filme que nos encha as medidas nao é fácil. Saimos sempre a encolher os ombros e refujiamo-nos nos intelectualoides fora dos circuitos mas que confessemos não são a mesma coisa. Vemos muita televisão e pesquisamos o videoclube do Meo à procura de milagres. Mas não é a mesma coisa.
Nunca mais vimos os herois com ou sem musculos com quem nos identificávamos e que queriamos fossem nossos pais ou irmãos.
Só Flash Gordon e Super Homem, Homem America ou Popeye. Homens verdes e azuis. Historinhas mal contadas ou contadas à pressa com honrosas excepções. Artistas que matam os bons e namoradas sem sal nenhum. Jamais as divas que amámos, bonecas feitas em série.
Também o cinema esta a mudar, há algum tempo. Na minha perspectiva a mudar para pior. Os artistas deram lugar aos futebolistas e as namoradas viraram virtuais como nos jogos das playstation. Resta-nos pedir que regressem filmes como Casablanca ou O Padrinho com os seus heróis/vilões de carne e osso. Ou então, como os velhos, repetir e repetir até não poder mais.
Cá por mim que viva a Natalie Wood.
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