Domingo, 13 de Novembro de 2011

Há muitos anos atrás, no tempo em que os animais falavam, eu tinha 16 ou 17 anos e passava a vida em casa da Teresa V. 

 

Gostava do ambiente , do irmão, da Joana que era pequenininha, da mãe Marilia, do pai e claro.. da Teresa.

Gostava das historias que se contavam, das musicas que se ouviam e do nada que se fazia.

Lembro-me dos Rolling Stones e do Mick Jagger que era um ser adorado mas também do Carlos Mendes e sua "Amélia dos olhos doces", quem sabe se o melhor cantor que Portugal já conheceu.

 

Ia tanto lá casa q por vezes quem me abria a porta era a avó que morava na porta em frente, senhora única de uma amabilidade sem fim. Passei horas e horas naquela casa muito perto do Filipa de Lencastre que ajudei a sujar com grafittis sobre a revolução.

 

Mas o que me tras aqui é uma história engraçada. Um dia, como habitualmente bati à porta da Teresa e quem me atendeu foi o pai. Especialista em armamento ( lembram-se dos Scuts?) que fazia a parte internacional do Jornal "Diario", se a memória não me falha. Como dizia Saul Bellow "Eu não era grande coisa como pretendente. Quando tocava à sua porta a mãe parecia desapontada. Eu devia ter sido o paquete da tinturaria, a vir buscar as camisas".

 

-Boa tarde a Teresa não está?

-Não, só estou cá eu

-ah ok então eu passo depois

-E quem anuncio? eu conheço-o mas confesso que o nome?

-Diga que esteve o José Baldino

-ok

-ok até logo

 

Lá fui até a António Arroio onde estavam o resto dos amigos que não se encontravam nos Anjos que era a minha escola, a Graça, o Rui, a Céu, a Nádia, eterna Nádia e o namorado da minha colega Luisa.

 

Naquilo que interessa a Teresa acabou por chegar a casa.

Á hora do jantar o pai muito prestável informou:

 

- Teresa esteve cá o teu amigo Alguidarzinho...

- Alguidarzinho pai? Baldino talvez!

- Huuumm eu sabia que era um recipiente. 



publicado por baldino às 23:44 | link do post | comentar

Quinta-feira, 10 de Novembro de 2011

Hoje, véspera da comemoração da independência de Angola, foi dia de almoçar com o meu amigo Manuel Forjaz no Miss Saigon e de visitar o Codebits. 



publicado por baldino às 22:25 | link do post | comentar

"Nunca, nunca te abandonarei, nem te negarei"

 

Enquanto o médico me transmitia que tinha um cancro e que tinha de ser operado eu desliguei. A minha mulher, que me acompanhava, haveria de prestar atenção e depois dizia-me exactamente o que se passava e o que era suposto fazermos. Sim porque uma doença destas não acontece só ao pai, afecta toda a familia. Passa a ser nossa e não minha.

 

Mas enquanto desligava pensava como nós não éramos relevantes. Conseguíamos passar pela vida e não ser relevantes para ninguém. Passar por vezes 80 anos e não tocarmos a vida de ninguém. Não falo dos amigos e do convívio que temos com eles. Isso é importante para eles mas não lhes muda a vida. Falo de ser relevante para alguém, ou alguma coisa.

 

E com os meus botões continuava a falar com Nossa Senhora.

Se Ela permitisse que eu durasse ainda alguns anos eu tinha o compromisso de ser relevante para alguém, por exemplo uma criança por ano. Não é muito mas é importante para essa criança.

Não se tratava de uma troca, nem sequer de uma promessa, mas sim de uma constatação. Se por acaso continuasse a viver, e enquanto isso sucedesse haveria de fazer a diferença, pequena que fosse, na vida de alguém.

 

A consulta terminou, chorámos o que tínhamos para chorar e voltámos para casa. Desde a primeira hora que única situação que estava implicita era darmos sempre a normalidade  possível à nossa familia. Por isso nesse dia a minha mulher foi ao supermercado. Como a empregada já tinha saído fiquei sozinho em casa. Sentei-me no sofá e preparava-me para pensar na vida quando o telefone fixo tocou. Pensei de mim para mim "que chatice tenho que atender a sogra ou a mãe" porque só elas continuam a ligar para o telefone fixo. Contrariado sai do sofá e atendi o telefone. Do outro lado uma voz:

- Sr. António? - Sim, respondi desconfiado.

- Boa tarde, daqui fala da Associação para as crianças deficientes.

- Como? obriguei a mulher a repetir aquilo que não estava a acreditar estivesse a acontecer. Confesso que estava até um pouco irritado. Como se fosse possível alguém escutar os meus pensamentos.

- E o que é que a senhora pretende? perguntei.

- Temos uma criança doente que semanalmente tem que se deslocar e estamos a fazer um peditório, respondeu ela.

- E porque me telefonou?

- Porque estamos a falar para pessoas da sua localidade.

 - E como é suposto eu dar-lhe o dinheiro, questionei desconfiado. 

- Nós mandamos uma proposta por correio, o senhor analisa e pesquisa e só dá o que quiser

- Então mande lá o papel, conclui muito zangado e desliguei o telefone.

 

Verdade ou mentira, porque o resto da historia guardarei para mim, o que é certo é que nesse dia alguém quis falar comigo. E fe-lo da forma mais directa possível.

Não consigo imaginar forma mais directa de comunicação.

Quem me conhece sabe que, embora católico, não pertenço a nenhuma seita. Não conto habitualmente histórias de santos nem alinho com pieguices. mas também não acredito com facilidade em coincidências. 

E nesse dia alguém falou muito directo comigo. Disso não me posso esquecer. 

 

 

 



publicado por baldino às 22:24 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Segunda-feira, 7 de Novembro de 2011

Lembro-me do Senhor Santos. Eu não tenho pai e confesso que os Srs Santos da vida me animavam bastante. Era uma troca justa. Eu não tinha pai e eles ainda nao tinham filhos. O Sr. Santos tinha um Fiat 128 Rally vermelho com uma lista preta em baixo e um leitor de "cartuchos"  em cima. O leitor de cartuchos tocava Amalia Rodrigues e anedotas do Solnado. Acho que também cantava Opereta de vez em quando.E coisa do outro mundo, eu como melhor amigo ia no banco da frente. Óbvio que só nos dias de folga do Sr. Santos.

 

Coisa do outro mundo. Com ele eu era mais importantes que toda a gente. Ele era uma especie de responsavel de um restaurante chamado Katekero.

Um personagem timido mas engraçado, capaz de nos contar piadas que nos até entendiamos.

Casado com a deslumbrante Rosa Maria por cuja gravidez me apaixonei. Amiga da minha mãe.

O Sr. Santos, casado, mas ainda sem filhos, folgava à segunda feira e levava-nos a passear. Todo o santo dia de folga. Á caça dos passaros sem nome com uma pressão de ar "El Gamo" vinda da Metropole, daquela casa em Algés por baixo da tia Justina, que já foi também um restaurante chinês.

Quem nos levava para a caça na folga do Sr. Santos era o Fiat 128 Rally Vermelho. Barra do Cuanza (que agora é Kuanza), Morro dos Veados, sei lá eu. Lá iamos nós e o Fiat 128 Rally Vermelho, eu (à frente), a minha prima Cristina, o Julio e o Rui.

Também podiamos ir à pesca com a familia toda. Sempre à seguinda feira.

Como estou nostalgico apeteceu-me ver o Sr. Santos e a Rosa Maria.

 

A filha foi Simone porque não pode ser Katia. Graças a Deus que o registo não permitia na altura nomes arraçados de comunistas..

Nao acho justo nunca mais os ter visto. Eu o honorável padrinho. 

A Simone dos belos olhos azuis da mãe, deve ter um, dois, três filhos que nao conheço.  E o Sr. Santos imagino-o ainda a amar a bela Rosa Maria. A Rosa Maria  que adorava festas e se sentia por isso bem em Luanda. Depois como todos, veio fugida para a metrópole. Metida na terra ali estagnou e a relaçao com o Santos a piorar.

 

Ainda tive a sorte de ver o casamento da Simone de quem era padrinho, mas nao soube mais nada de uma familia que foi minha também.  Prometo que os vou procurar e encontrar. Falar muito do passado e do Fiat 128 Rally Vermelho.


Os meus primeiros compadres. 

 

 

 

 fiat 124 rally vermelho



publicado por baldino às 01:17 | link do post | comentar | ver comentários (3)

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