Segunda-feira, 19.07.10

Ao longo dos meses num quiosque de revistas por onde habitualmente passo fui inadvertidamente sendo testemunha de um caso de vida que nos deve fazer pensar a todos numa serie de temas politicos e pessoais.

 

Sem ser muito observador, algures a meio do ano passado apercebi-me que a senhora que habitualmente está no quiosque das revistas por onde passo estava grávida. Diariamente por lá passei "acompanhando" a alguma distância a gravidez que se desenvolvia.

 

Pelo final do ano e pelo tamanho da "pretuberância" apercebi-me que a coisa estava por muito pouco. Passei a interessar-me ainda mais pois não só admirava a persistência no trabalho mesmo até à última como sentia alguma curiosidade pelo dia em que a coisa finalmente acontecesse. Afinal todos os dias se vendiam revistas com capas anunciando nascimentos famosos e quem as vendia também tinha direito a algum protagonismo.

 

E pronto, lá sucedeu, um belo dia de Inverno a senhora havia sido substituida ao balcão do quiosque das revistas por um rapaz bem parecido, meio atrapalhado com o nome dos cigarros e dos titulos das revistas menos conhecidas. Entre uma troca de trocos menos bem sucedida não resisti a perguntar se estava tudo comigo o bem com a dita senhora. A resposta veio célere, "é um menino e nasceu ontem muito bem de saude com quase 4 quilos de peso".

 

Apesar de não ser nada comigo senti-me satisfeito por aquela gravidez que havia acompanhado dia a dia ter sido bem sucedida. Pelos contas que então fiz a dita senhora manteve-se no seu posto até ao dia da concepção, firme e sem queixas, como que a lembrar que conceber continua a ser uma acto natural e divino.

 

Mas ficasse a historia por aqui e não haveria história. A historia existe porque num agreste dia de chuva, daqueles em que a última coisa que nos apetecesse é levantar da cama, apenas 15 dias após a bela noticia do nascimento, la estava de novo a senhora dos jornais, firme no seu posto. E a seu lado, dividindo o atravancado espaço por trás das revistas um carrinho azul bébé.

 

Uau disse de mim para mim. Não passaram 15 dias. E coitadinho, que dia tão mau.

Óbvio que não consegui resistir a pedir para ver a criança. E ela lá estava bela e luzidia, revestida por um cobertor azul "à homem" só com a cabecita de fora. A mãe exibia-o bastante babada e com o mesmo ar com que 15 dias antes a tinha visto pela última vez.

 

Continuo a passar diariamente pelo local e habituei-me a olhar para a criança para perceber a sua evolução. Dia após dia, faça chuva, frio ou sol lá está ele. Primeiro mamando, agora já comendo a sopa, sorrindo a quem passa, uma verdadeira atracção publica que imagino também ajude a vender e a fidelizar os clientes.

 

Esta história de vida fez-me reflectir nas benesses que o estado social nos foi dando com seis meses de licença de parto e gravidezes que ao fim do primeiro mês exigem que a mâe vá para casa. Com a nossa constante insatisfação. Não tenho nada contra esses direitos, antes pelo contrário, mas a senhora do quiosque é a prova de que eles não chegaram a todo o lado nem a toda a gente , mesmo a esta gente que vive aqui muito perto de nós.

 

E as nossas crianças não deitam o nariz de fora de casa num dia de chuva, Deus me livre!!! e no entanto aquela ali está desde os quinze dias de vida à chuva e ao sol. Aparentemente gorda e anafada, respirando saúde.

 

Não tive tempo para reflectir sobre o que penso de tudo isto e por isso não tenho criticas a fazer para nenhum dos lados. Quis apenas partilhar esta história e não ficar com ela guardada para mim. Para que as nossas conversas sejam mais ricas debatendio a realidade e não só a teoria.

 



publicado por baldino às 21:48 | link do post | comentar | ver comentários (5)

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