Terça-feira, 28.09.10

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

 



publicado por baldino às 11:44 | link do post | comentar

mais sobre mim
posts recentes

Não sei quantas almas ten...

arquivos

Agosto 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Abril 2011

Fevereiro 2011

Dezembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

tags

2011 balanço

alberto caeiro

alcochete

bebe quiosque revistas social

carlos drummond andrade palavra mágica p

chile orcamento doclisboa howard jacobso

circo chen feira popular lisboa dezembro

fernando pessoa poema felicidade exige v

frankfurt

livro

luanda

magoito

outono

pessoa rossio alma

todas as tags

blogs SAPO
subscrever feeds