No outro dia lembrei-me do meu tio Zé Luis. Saudoso Tio sempre sorridente que nos fazia rir a todos.
Lembrei-me do bom dia em que o conheci e do mau dia em que o vi pela última vez.
Lembro-me que o conheci em Magoito agarrado à minha Tia Talina, sentado num muro feito de pedras pequeninas. eu devia ter uns dez anos e ele vinte e muitos. Lembro-me que como eu tinha perdido o pai muito cedo e não sei porquê essa era uma afinidade que nos ligou desde sempre.
Era muito bonito o meu Tio, por dentro e por fora.
Eu, menino da mamã, chegadinho de Luanda de férias, chorava porque os meus primos tinham gozado comigo. Por isso desistira de ficar com eles em Magoito e queria ir para Algés com a minha mãe. Então o meu Tio sentado no muro, tal como o estou a ver, convidou-me a ficar, que ia ser muito bom. E foi.. como foram as piadas dele com o Srº Gonçalves :) e a vez que vendo a sua fiel cadela Fany com falta de apetite se chegou a ela percebeu qualquer coisa e partiu ali mesmo um osso de galinha que ela tinha encravado na garganta. Era assim o meu Tio, bastante prático.
Mas hoje lembrei-me sobretudo de uma vez, um pouco mais velho, quando acordava de mais uma noitada em Magoito, e sentindo passos no quintal ao lado, vim à minuscula janela da casa de banho do meu primo e dei com o meu tio a cavar o jardim.
Meio a dormir ainda e com um olho fechado pelo sol a bater-me na cara disse-lhe bom dia.
Diz o meu tio Zé Luis com aquele ar impávido: - Bom dia, que fazes tu logo de manhã ai com a casa pendurada ao pescoço?
Eh eh eh estejas onde estiveres bem hajas meu Tio porque me ensinaste a ser divertido em todas as ocasiões e sobretudo a interessar-me também pelos outros.
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