Ontem voltei ao Magoito. Fui almoçar ao restaurante do meu amigo Cazé. O velho Almofariz. O vento , o frio, a humidade, o cheiro a pinho. O Magoito dos sentidos está igual. O outro Magoito, o Magoito da construção é uma vergonha que temos que esquecer. Doi-me o nariz de tanto fungar. E recordo as idas a praia, para baixo e para cima. A carreira só passa de hora a hora e por isso vamos a pé. A tia Vanda não quer esperar, vamos a pé. Passamos pelo Portelinha e avançamos para a curva da morte, a casa do Chucu, a lembrar velhas resistências. Antes já passáramos pela Mongoa, nome de guerra, primeira grande guerra, velha batalha da marinha em terra seca, interior de angola. Em frente a casa do Ruizinho. Na Mongoa, por baixo do telheiro, um gira discos tocava os grandes "slows" que, num mundo sem sms, nos permitiam perceber se a miuda estava ou não afim. A praia tinha o Zé Maria dos bolos e gelava os pés.
E o Pereira da Silva? Uaau a volta do Pereira era a volta nocturna mais famosa das redondezas. Uma hora de caminho com paragens na "chinchada". Também havia o Rio da Mata, que será feito do Rio que desaguava na praia? O caminho do Rio da Mata era uma conquista, um oeste selvagem , um cheiro a aventura. No Rio da Mata havia nomes que eram poemas como o do "pinhal alcatifado".
Magoito antes da destruição era um mar de pinhais. Também tinha as arribas. Era precisamente ali que acabava o nosso mundo. A fronteira era a casa do primo Tójó, depois disso as arribas, um pinhal de areia branca onde as perdizes se viam no inverno e depois as arribas, o mar, sempre carregado de "cordeiros" brancos, vento , o vento.
Passávamos 3 meses seguidos em Magoito, e para entreter jogávamos à lerpa em casa do "Orelhas". Os mais profissionais eram os Soeiros, o Carlos e o Rui.
E o meu grande amigo era o Zézé dos Porcos, o homem do casal dos bacorinhos. imbativel no que toca as miudas o grande Zézé!! Iamos e vinhamos dos Plátanos em Sintra e traziamos as namoradas sentadas nas motorizadas. Depois a casa do Zézé, grande, de piscina, fazia o resto. Meu Deus!! Como fomos felizes em todos esses anos.
Também havia os bailes. Gente da cidade que adorava os bailes da aldeia. Conjuntos famosos, verdadeiros beatles de encomenda, como o Academico e os Laranja mecânica. E havia bailes em quase todo o lado: Varzea, Tojeira, Arneiro, Terrugem, Praia das maças, Fontanelas... grandes atracções nacionais como as Doce e o José Cid faziam o resto. E não se pode falar da Praia das Maças sem falar do Maria Bolachas. A discoteca mais famosas la do sitio.
A gazolina metia-se em Sao Joao das Lampas, a terra das Galuchos. Bons partidos com quem sonhávamos casar.
As motas eram a nossa loucura, corriamos desenfreados até ao Bibió na Praia das Maças. Na recta de Janas tirava-se a prova dos nove, o quanto andava realmente a nossa máquina. E havia o Carlos que tinha uma Honda 250 e o Jorge com uma Kawa 500, o resto eram so motorizadas, V5, hondas 50, gileras, zundap, Casal. A Ligia tinha uma Casal K 128 :) A João uma Casal Boss e o Fino uma Yamaha RD 50 a primeira motorizada com travão de disco à frente!!
O pão quente comprava-se no Largo da Quitas e o café de eleição era o do Senhor Lé entregue ao seu filho Toninho que também tinha a casa de jogos. Dias inteiros na casa de jogos a jogar Flipers e bilhar. Ainda havia os dias dedicados a apanhar caracois, colher amoras, abrunhos, mirtilos, chupar azedas e pescar bogas. O Magoito era o nosso mundo, um mundo de felicidade.
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